A ESCOLA DE COPENHAGUE E A (NÃO) DISCUSSÃO SOBRE O GÊNERO: OS CRIMES DE “HONRA” NO PAQUISTÃO E O CASO DE QANDEEL BALOCH
DOI:
https://doi.org/10.29327/252935.15.1-10Palavras-chave:
Mulheres Paquistanesas;, Crimes de Honra;, Gênero e Escola de CopenhagueResumo
A Escola de Copenhague se destaca nos Estudos de Segurança principalmente pelos seus conceitos de segurança social e securitização, ao mesmo tempo que se coloca como uma perspectiva alternativa aos estudos tradicionais de segurança (Buzan; Hansen, 2012). Ainda assim, essa perspectiva teórica não está isenta de críticas, como mostra Lene Hansen (2000) ao abordar a ausência de discussões de gênero na Escola de Copenhague. Para ela, a insegurança de gênero não diz respeito apenas à redistribuição e reorganização da sociedade, mas também a questões fundamentais de sobrevivência. Tendo isso em vista, o trabalho pretende discutir os crimes de honra no Paquistão a partir de uma análise crítica da Escola de Copenhague, no âmbito da segurança discursiva. Será realizada análise do caso de Qandeel Baloch, assassinada por seu irmão em 2016 em nome da honra familiar, e que demonstra o cenário de intensa violência contra as mulheres paquistanesas. Percebe-se, ao final da pesquisa, que a Escola de Copenhague se distanciou de sua proposta inicial de teoria com viés societal, pois seus pressupostos teóricos acabam por ignorar dinâmicas de sociedades violentas e patriarcais, como o Paquistão, onde há silenciamentos e naturalização dos crimes de honra contra as mulheres.
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