SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E RISCOS DEMOCRÁTICOS:

O PAPEL DOS COMITÊS DE BIOÉTICA EM TEMPOS DE INFOCRACIA

Autores

  • Alberto Paulo Neto Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil https://orcid.org/0000-0003-2322-1984
  • Anor Sganzerla Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil
  • Diego Carlos Zanella Universidade Franciscana, Brasil

Palavras-chave:

Bioética. Sociedade da informação. Comitês de Bioética. Participação política. Democracia.

Resumo

As transformações digitais da sociedade contemporânea nos fazem refletir sobre o controle social que as “big techs”, empresas do Vale do Silício, estão adquirindo ao obter informações e dados dos usuários na utilização dos meios digitais. A sociedade da informação é caracterizada pelas relações sociais conectadas e partilhadas em ambientes virtuais, no entanto, a estrutura das interações digitais está sendo controlada e monitorizada pelo algoritmo da “big tech”. Segundo Byung-Chul Han, esse período pode ser chamado de “infocracia” e representa o domínio da mídia digital sobre o processo de formação do conhecimento e interação comunicativa. A infocracia põe em risco as instituições democráticas e a possibilidade de comunicação com telos na compreensão porque a forma “viral” de divulgação da informação não é necessariamente guiada pelo critério da verdade e da compreensão do Outro. Diante deste contexto de risco para o exercício da política democrática e de incompreensão comunicativa, queremos refletir a partir de referências bioéticas sobre uma nova possibilidade de reinventar a participação democrática e a interação comunicativa em ambientes virtuais. A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos levanta a necessidade de promover o diálogo multidisciplinar e pluralista como meio de resolver conflitos éticos. Por isso, a Declaração incentiva os Comitês de Bioética a desenvolverem atividades que promovam o debate público e uma decisão mais fundamentada sobre as questões sociopolíticas.

Biografia do Autor

Alberto Paulo Neto, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil

Possui graduação em Filosofia pela Universidade Estadual de Londrina (2006), Mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2009) e Doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (2015). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Ética e Filosofia Política, atuando principalmente nos seguintes temas/autores: Bioética e Direitos Humanos, Teorias da democracia, Teorias da justiça, Republicanismo e Liberalismo político, Filosofia Política, Filosofia do Direito e autores: Immanuel Kant, Jürgen Habermas, Ronald Dworkin e Philip Pettit. Líder do Grupo de Pesquisa: Justiça e Direitos Fundamentais (CNPq/PUCPR Campus Londrina). Professor permanente no Programa de Pós-Graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Membro do "Espacio abierto de Inteligencia Artificial" de UNESCO para América Latina y el Caribe. 

Anor Sganzerla, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil

DOUTOR em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos(2012);MESTRE em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004);ESPECIALISTA em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(1999); Graduado em TEOLOGIA pelo Instituto Teológico São Paulo (1993) e em FILOSOFIA pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1987). Atualmente é Professor Adjunto do Curso de Filosofia e Professor Permanente do Programa do Pós Graduação Stricto Sensu em Bioética da PUCPR. Coordena o Eixo Humanístico da instituição nos anos de 2012-2013; 2016-2019. Presidiu a Sociedade Brasileira de Bioética do Paraná (gestão 2015-2017); É membro da SBB (Sociedade Brasileira de Bioética); É membro do NET (Núcleos de Estudo da Técnica da PUCPR), e do NEB (Núcleo de Estudos em Bioética); É membro do Centro Hans Jonas Brasil; É Coordenador do Doutorado Internacional em Humanidades na parceria PUCPR e UCM (Universidade Católica de Moçambique). É Professor visitante da Universidade Católica de Moçambique no Doutorado em Humanidades. É líder do grupo de pesquisa Bioética e Biotecnologia; É membro dos grupo de pesquisa Hans Jonas e de Bioética Ambiental. Leciona as disciplinas Fundamentos da ética, Epistemologia da ética e da ciência e Metodologia Científica. Tem priorizado suas pesquisas com temas relacionados: [1] ÉTICA E TECNOCIÊNCIA: às questões éticas e morais das biotecnologias; ética na era da engenharia genética; responsabilidade e progresso na civilização tecnocientífica; pós-humanismo; transhumanismo; a questão da autenticidade da vida humana e extra-humana; a humanização da técnica, entre outros; pesquisa também temas ligados à [2] (BIO)ÉTICA AMBIENTAL, , tais como: fundamentos ético-filosóficos em vista à sustentabilidade e a preservação ambiental; as novas bases éticas para a proteção de todo o Reino Vivo, entre outros. Tem atuado como um dos organizadores e divulgadores do pensamento de Van Rensselaer Potter (pai da bioética) em língua nacional.

Diego Carlos Zanella, Universidade Franciscana, Brasil

Diego Carlos Zanella possui graduação em Filosofia (licenciatura) pela Faculdade Palotina de Santa Maria - FAPAS (2002/2-2006/1). Mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM (2006/2-2008/1). Doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS (2008/2-2012/1), com período de estágio de doutoramento na Eberhard Karls Universität Tübingen - Alemanha - sob a orientação do Prof. Dr. Otfried Höffe (Janeiro/2010-Novembro/2011) na Forschungsstelle Politische Philosophie. Também realizou estudos de aperfeiçoamento (2015-2016), especialização (2017-2018) e mestrado (2019-2020) em Bioética pela Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales - FLACSO, Buenos Aires, Argentina. Desde 2012, é docente da Universidade Franciscana (UFN), Santa Maria, RS, atuando no ensino de ética e bioética no curso de filosofia e demais graduações, e no ensino de humanidades no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades e Linguagens (PPGEHL), do qual é o atual coordenador; é membro do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP), desde setembro de 2018, e da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), desde março de 2020. Desde 2013, é membro da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB). E membro relator suplente da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (2024-2027). Diego Carlos Zanella tem interesse nas seguintes áreas: Ensino de Humanidades e Bioética, Ética e Filosofia Política, Cosmopolitismo e Direitos Humanos.

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Publicado

2024-06-26

Como Citar

Neto, A. P., Sganzerla, A., & Zanella, D. C. (2024). SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E RISCOS DEMOCRÁTICOS:: O PAPEL DOS COMITÊS DE BIOÉTICA EM TEMPOS DE INFOCRACIA. REVISTA INSTANTE, 6(1), 276–295. Recuperado de https://revista.uepb.edu.br/revistainstante/article/view/3402

Edição

Seção

Artigos