POR UMA EDUCAÇÃO ANTICAPACITISTA: RELATO AUTOBIOGRÁFICO DE UMA PROFESSORA COM DEFICIÊNCIA
Palavras-chave:
Formação de Professores, Memórias, Anticapacitismo, InclusãoResumo
Como pessoa com deficiência e professora, observo que a minha presença neste lugar, surpreende e provoca muitas inquietações. Apesar dos últimos avanços, algumas estruturas capacitistas se mantém fortes, reproduzindo o preconceito e perpetuando estigmas sobre as pessoas com deficiência, o que reforça as barreiras que dificultam o exercício de direitos humanos e sociais por estas pessoas. O presente artigo tem como objetivo relatar as memórias da minha vivência num corpo com deficiência e do processo de construção da minha identidade pessoal e profissional com vistas a suscitar propostas de construção de uma educação anticapacitista na escola, a partir da formação de professores. Como objetivos específicos, buscamos: relatar como se deu a construção da minha identidade enquanto pessoa com deficiência e profissional; evidenciar o capacitismo presente no cotidiano; e, propor mudanças que promovam uma cultura anticapacitista nas escolas. Recorro à autobiografia como recurso metodológico (Abrahão, 2004), tendo as memórias como fonte primária, com vistas a contribuir para a reflexão de outros educadores. Quando escolho a autobiografia, me apoio sobretudo em Nóvoa (1992), propondo uma reflexão sobre momentos significativos, em que se entrelaçam percursos pessoais e profissionais, e, o individual e o coletivo. Os resultados apontam que a pouca presença de pessoas com deficiência, ocupando espaços sociais minimamente relevantes, retroalimenta o ciclo do capacitismo. Para quebrar este ciclo, faz-se necessárias mudanças na formação de professores, que suscite a construção de novas práticas, tendo como base o estabelecimento de conexões reais entre pessoas/profissionais sem deficiência e pessoas/profissionais com deficiência.
Referências
Abrahão. M. H. B. (Org.). (2004). Pesquisa (auto)biográfica: teoria e empiria. Porto Alegre: EDIPUCRS.
Block, P., Gesser, M., Mello, A. G. de. (2020). Estudos da deficiência: interseccionalidade, anticapacitismo e emancipação social. In G. Böck, M. Gesser, & P. Lopes, (Orgs). Estudos da deficiência: anticapacitismo e emancipação social. Curitiba: CRV.
Brasil. (2008). Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008. Aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Campbell, F. K. (2008). Exploring internalized ableism using critical race theory.” Disability & Society.
Costa, V. de S. P. (2009). Representações sociais da cadeira de rodas na lesão da medula espinhal. [Tese de Doutorado em Enfermagem, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo].
Dias, A. (2013). Por uma genealogia do capacitismo: da eugenia estatal a narrativa capacitista social. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal.
Eakin, P. J. (2019). Vivendo autobiograficamente: a construção de nossa identidade narrativa. São Paulo: Letra e Voz, 2019. Resenha de: MOREIRA, Igor Lemos. Pensar a autobiografia entre história, identidade e narrativa. Faces da História, Assis, 6(2), 566-572.
Josso, M. F. C. (2004). Experiências de vida e formação. São Paulo: Cortez.
Le Breton, D. (2017). A sociologia do Corpo. (2ª ed.). Petrópolis: Vozes, Guia para práticas anticapacitistas na Universidade.
Marques, A. C. (2008). O perfil do estilo de vida de pessoas com Síndrome de Down e normas para avaliação da aptidão física. [Tese de Doutorado em Ciências do movimento Humano, Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul].
Marques, A. C. (1998a). Implicações políticas da institucionalização da deficiência. Educ. Soc.
Marsiglia, A. C. G. (2021). O tema da diversidade na pedagogia histórico-crítica. In A. C. G. Marsiglia, E. L. Batista (Orgs.). Pedagogia Histórico-Crítica: desafios e perspectivas para uma educação transformadora. Campinas: Autores associados.
Mello, A. G. (2016). Deficiência, incapacidade e Vulnerabilidade: do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciência & Saúde Coletiva, 21(10), 3265-3276.
Melo, D. C. F. de. (2024). Educação das pessoas com deficiência na perspectivia crítica. Campo de Goytacazes: Ed. Encontrografia.
Nóvoa, A. (1992). Os professores e as histórias da sua vida. In A. Nóvoa (Org.) Vidas de professores. Porto: Porto Editora.
Pedrinelli, V. J., Verenguer, R. C. G. (2013). Educação Física Adaptada: introdução ao universo das possibilidades. In M. Greguol, & R. F. Costa. Atividade física adaptada Barueri: Manole, 1-29.
Rodrigues, D. (2003). A Educação física perante a educação inclusiva: reflexões conceptuais e metodológicas. Revista da Educação Física da UEM, Maringá, 14(1), 67-73.
Sampaio, C. T., & Sampaio, S. M. R. (2009). Educação inclusiva: o professor mediando para a vida. Salvador: EDUFBA, 162 p.
Sassaki, R. K. (2010). Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos. (8ª .ed.). Rio de Janeiro: WVA.
Sassaki, R. K. (2014). Capacitismo, incapacitismo e deficientismo na contramão da inclusão. Revista Reação, ano XVII, (96), 10-12.
Silva, O. M. (1987). A Epopéia. Ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: Cedas.
Storrey, K. (2007). Combating Ableism in Schools. Preventing School Failure.
Vygotsky, L. S. (1993). A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes.
