JESUÍTAS E CRIANÇAS NO BRASIL (1549-1560):

uma abordagem na perspectiva do Processo Civilizador

Authors

Abstract

O presente trabalho pretende estudar as cartas e registros dos padres da Companhia de Jesus e analisar atividades e ações destes junto às crianças no Brasil quinhentista, à luz da Teoria do Processo Civilizador, de Norbert Elias (2011, 1993). O recorte temporal abarca de 1549 a 1560 e utiliza como fontes cartas jesuíticas contidas nos três primeiros volumes da “Monumenta Brasiliae”, organizada por Serafim Leite. O objetivo central do texto é abordar como estes padres tentavam, de diferentes maneiras, inscrever o que consideravam civilidade aos nativos brasílicos, sobretudo às crianças. Entre as estratégias utilizadas, estava a de separar os pequenos curumins de suas famílias e grupos, por meio de casas, escolas, colégios e aldeamentos, percebendo-se, desde cedo, que tal prática poderia ser eficaz, potencializando o processo civilizador destes pequenos. Para que houvesse mudança de costumes, era necessário, também, instalar novos costumes e práticas religiosas, civilizadas, em lugar das antigas práticas de culturas de nascimento. Dessa forma, os padres da Companhia de Jesus empreenderam várias atividades para ensinar e transformar comportamentos destas crianças no Brasil Colônia, sobretudo com a instalação de comportamentos religiosos, ligados a rituais e sacramentos da Igreja. Abordamos, ainda, relatos de dificuldades e problemas enfrentados no decorrer das ações de catequese e ensino dos pequenos. Concluímos que a ação da Companhia de Jesus no Brasil, sobretudo junto às crianças nativas, obedecia à lógica de desenvolver nas populações locais as sensibilidades próprias da religiosidade cristã, para reduzi-las ao ideal de civilidade valorizada à época.

Author Biographies

Felipe Augusto Fernandes Borges, Instituto Federal do Paraná

Doutor em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Professor do curso de Pedagogia do Instituto Federal do Paraná, Campus Pitanga. É líder do Grupo de Pesquisa História, Educação e Cultura – GPHECULT (IFPR) e participa do grupo de pesquisa: Laboratório de Estudos do Império Português (LEIP) da Universidade Estadual de Maringá.

Elenice Alves Dias Borges, Universidade Estadual de Maringá

Doutoranda e Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Especialista em Interdisciplinaridade e Docência pelo Instituto Federal do Paraná, Campus Pitanga. Graduada em História. Participa do grupo de pesquisa: Laboratório de Estudos do Império Português (LEIP) da Universidade Estadual de Maringá.

Célio Juvenal Costa, Universidade Estadual de Maringá

Doutor em Educação. Professor do Departamento de Fundamentos da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. É líder do grupo de pesquisa: Laboratório de Estudos do Império Português (LEIP) da Universidade Estadual de Maringá.

References

Ariès, P. (1981). História Social da Criança e da Família (2ª ed.). Rio de Janeiro: Zahar.

Bittar, M., & Ferreira Júnior, A. (2017). A pedagogia brasílica nos primeiros tempos da colonização: escolas de ler e escrever, teatro, música e ensino de artes mecânicas. Revista IRICE, (32), 13-38.

Bittar, M., & Ferreira Júnior, A. (2000). Infância, catequese e aculturação no Brasil do século 16. R. bras. Est. pedag., 81(199), 452-463.

Borges, F. A. F. (2021). O Seminário de Santa Fé e o Colégio de São Paulo, em Goa: a Companhia de Jesus no oriente português (1541-1558). Curitiba: Appris.

Borges, F. A. F., & Borges, E. A. D. (2022). Jesuítas e crianças no Brasil: um panorama das produções historiográficas. Comunicações Piracicaba, 29(2), 163-188.

Brust, M. (2007). Corpo submisso, corpo produtivo: Os jesuítas e a doutrinação dos indígenas nos séculos XVI e XVII. Revista Aulas, (4), 1-32.

Chambouleyron, R. (1999). Jesuítas e as crianças no Brasil quinhentista. In M. Del Priore (Org.), História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 55-83.

Chaves, A. M. (2000). Os significados das crianças indígenas brasileiras (séculos XVI e XVII). Rev. Bras. Cresc. Desenv. Hum., 10(1), 11-30.

Costa, C. J. (2004). A racionalidade jesuítica em tempos de arredondamento do mundo: o Império Português (1540-1599). [Tese de doutorado, Educação. Piracicaba: Universidade Metodista de Piracicaba].

Del Priore, M. (1991). O papel branco, a infância e os jesuítas na colônia. In M. Del Priore (Org.), História da criança no Brasil. São Paulo: Contexto, 10-27.

Elias, N. (1993). O Processo Civilizador. Formação do Estado e Civilização (Vol. 2). Rio de Janeiro: Zahar.

Elias, N. (2011). O Processo Civilizador. Uma história dos costumes (Vol. 1). Rio de Janeiro: Zahar.

Kuhlmann Jr., M. (1998). Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação.

Kuhlmann Jr., M. (2001). O jardim de infância e a educação das crianças pobres: final do século XIX, início do século XX. In C. Monarcha (Org.), Educação da infância brasileira: 1875-1983 (pp. 3-30). Campinas, SP: Autores Associados.

Leite, S. (Org.). (1956). Monumenta Brasiliae. Volume I (1538-1553). Roma: A Patribus Eiusdem Societatis Edita. (Monumenta Historica Societatis Iesu, v. 79).

Leite, S. (Org.). (1957). Monumenta Brasiliae. Volume II (1553-1558). Roma: A Patribus Eiusdem Societatis Edita. (Monumenta Historica Societatis Iesu, v. 80).

Leite, S. (Org.). (1958). Monumenta Brasiliae. Volume III (1558-1563). Roma: A Patribus Eiusdem Societatis Edita. (Monumenta Historica Societatis Iesu, v. 81).

Lodoño, F. T. (1995). Crianças e Jesuítas nos primeiros anos da evangelização do Brasil. Revista de Cultura Teológica, (11), 97-116.

Lodoño, F. T. (2002). Escrevendo Cartas: Jesuítas, Escrita e Missão no Século XVI. Revista Brasileira de História, 22(43), 11-32.

Paiva, J. M. (2006). Colonização e Catequese. São Paulo: Arké.

Pécora, A. (2008). Epistolografia Jesuítica no Brasil, Grão-Pará e Maranhão. Revista Estudos Amazônicos, 3(1), 39-46.

Published

2023-11-25

How to Cite

AUGUSTO FERNANDES BORGES, F.; ALVES DIAS BORGES, E.; JUVENAL COSTA, C. JESUÍTAS E CRIANÇAS NO BRASIL (1549-1560):: uma abordagem na perspectiva do Processo Civilizador. REIN - REVISTA EDUCAÇÃO INCLUSIVA, Campina Grande, Brasil., v. 8, n. 3, p. 25–42, 2023. Disponível em: https://revista.uepb.edu.br/REIN/article/view/2586. Acesso em: 24 nov. 2024.