REALISMO CIENTÍFICO E EMPIRISMO CONSTRUTIVO:
UM DEBATE SOBRE O SUCESSO CIENTÍFICO
Palavras-chave:
realismo científico, empirismo construtivo, argumento do milagre, Hilary Putnam, van FraassenResumo
O objetivo principal deste artigo é argumentar a favor do realismo científico, ao justificar a demanda de explicação para o sucesso da ciência, bem como indicar a insuficiência do esquema não-realista de explicação oferecido pelo empirismo construtivo. O realismo científico é uma concepção filosófica da ciência que assume uma atitude epistêmica otimista frente aos resultados da investigação científica que abrangem aspectos do mundo tanto observáveis como inobserváveis. A ciência é bem-sucedida em explicar e prever fenômenos, inclusive novos, porque suas melhores teorias (maduras, não ad hoc, bem-sucedidas empírica e instrumentalmente, provedora de previsões novas, fecundas etc.) são (parcial ou aproximadamente) verdadeiras e as entidades inobserváveis presentes nessas teorias realmente existem. O empirismo construtivo, por sua vez, apresenta uma explicação evolucionista-darwiniana para o sucesso da ciência. Uma teoria científica não precisa ser verdadeira, para ser bem-sucedida. Ela precisa apenas salvar os fenômenos, ou seja, descrever corretamente o que é observável. As teorias vigentes sobreviveram ao longo da história porque, dentre as teorias competidoras, foram as que mais conseguiram se adaptar, ou seja, conseguiram apreender as regularidades nos fenômenos os quais deviam explicar. Após a análise comparativa das perspectivas em debate, consideramos que um realismo científico sofisticado, que evita certos problemas, como o compromisso com a verdade correspondencial, e que dispõe de uma versão aprimorada do argumento do milagre, representa o mais forte candidato à explicação satisfatória do sucesso científico.
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