REALISMO E A VINDOURA REVOLUÇÃO NOS ESTUDOS CIENTÍFICOS DA CONSCIÊNCIA

Autores

Palavras-chave:

Realismo. Consciência. Quália. Lacuna explicativa. Materialismo. Leis psicofisiológicas.

Resumo

Este artigo é um estudo sobre os papéis das atitudes realista e antirrealista na vindoura revolução nos estudos científicos da consciência, mais especificamente o realismo dos quália (qualidades subjetivas). O primeiro estágio de tal revolução será o estabelecimento empírico de leis psicofisiológicas em seres humanos, conectando estados encefálicos com a vivência de quália. Prevê-se que a atitude realista deverá predominar em estudos com humanos, que podem relatar linguisticamente os resultados subjetivos de manipulações feitas no sensório de cada modalidade perceptiva. Com animais não humanos, a função linguística será substituída pelo estabelecimento de classes de discernimento sensorial, exprimíveis através do acionamento de alavancas. Neste caso, a interpretação instrumentalista (antirrealista) deverá predominar, caso em que não haveria leis psicofisiológicas propriamente ditas, mas leis correlacionando estados encefálicos com classes de discernimento. A interpretação realista dos quália poderá se manter guiada pelo estabelecimento de uma teoria geral da consciência que englobe animais não humanos, e lastreada em experimentos de manipulação no sensório humano que nos permitam vivenciar novos quália.

 

DOI: https://doi.org/10.29327/2194248.5.2-4

Biografia do Autor

Osvaldo Pessoa Jr., Universidade de São Paulo, Brasil

Professor Titular de Filosofia da Ciência no Departamento de Filosofia, FFLCH, Universidade de São Paulo (USP). Graduação em Física (1982) e Filosofia (1984) pela USP, mestrado em Física Experimental na Unicamp, em 1985, e doutorado no Departamento de História & Filosofia da Ciência na Indiana University, EUA, com tese sobre o problema da medição na física quântica (1990). Trabalhou, entre 1999-2002, na Bahia, na UFBA e UEFS. Publicou o livro Conceitos de Física Quântica (Ed. Livraria da Física, 2003). Desenvolve pesquisas em filosofia da física, filosofia da mente e “modelos causais em história da ciência”, além de se interessar por ensino e divulgação científica.

Referências

ALLEN, K.; QUINLAN, P.; ANDOW, J. & FISCHER, E. What is it like to be colour-blind? A case study in experimental philosophy of experience. Mind & Language, v. 37, pp. 814-839, 2022.

BOGEN, J.E. On the neurophysiology of consciousness. I. An overview. II. Constraining the semantic problem. Consciousness and Cognition, v. 4, pp. 52-62, 137-158, 1995.

BUTCHVAROV, P. Metaphysical realism. In: Audi, R. (org.). Cambridge Dictionary of Philosophy. 2a ed. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 562-563, 1999.

CARACHO, C. A . & PESSOA Jr., O. História contrafactual da tectônica de placas. In: CHIBENI, S.S. et al. (orgs.). Filosofia e historia de la ciencia en el Cono Sur: selección de trabajos del X Encuentro. Córdoba (AR): AFHIC, pp. 433-444, 2018.

CHALMERS, D. J. The conscious mind: in search of a fundamental theory. New York: Oxford University Press, pp. 161-168, 1996.

__________. O enigma da consciência. Scientific American Brasil, vol. Especial 4: “Segredos da mente”, junho de 2004, pp. 40-49. Original em inglês: 1995.

DENNETT, D. Quining qualia. In: MARCEL, A.J. & BISIACH, E. (orgs.). Consciousness in contemporary science. Oxford: Oxford University Press, pp. 42-77, 1988.

FODOR, J. A. The mind-body problem. Scientific American, v. 244, p. 1. pp. 124-132 e 148, 1981.

KOCH, C.; MASSIMINI, M.; BOLY, M. & TONONI, G. Neural correlates of consciousness: progress and problems. Nature Reviews Neuroscience, v. 17, pp. 307-322, 2016.

KUHN, T.S. The structure of scientific revolutions. 2a ed. Chicago: University of Chicago Press, 1970.

LEVINE, J. Materialism and the explanatory gap. Pacific Philosophical Quarterly, v. 64, pp. 354-361, 1983.

LOGOTHETIS, N.K. Visão: uma janela da consciência. Scientific American Brasil Especial, v. 4: Segredos da mente, pp. 20-27, 2004. (Orig. em inglês: Scientific American, v. 281, n. 5, p. 68-75, 1999.)

LOW, P.; PANKSEPP, J.; REISS, D.; EDELMAN, D.; VAN SWINDEREN, B. & KOCH, C. The Cambridge declaration on consciousness, 2012. Disponível em: <http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf>.

PANKSEPP, J. Affective neuroscience: the foundations of human and animal emotions. New York: Oxford University Press, 1998.

PENFIELD, W. The cerebral cortex in man. I. The cerebral cortex and consciousness. Archives of Neurology and Psychiatry, v. 40, pp. 417- 442, 1938.

PESSOA Jr., O. Concepções materialistas sobre a sede da consciência. História e Filosofia da Biologia, São Paulo, v. 15, pp. 93-136, 2020.

__________. The colored-brain thesis. Filosofia Unisinos - Unisinos Journal of Philosophy, São Leopoldo, v. 22, pp. 84-93, 2021.

__________. Qualidades sensoriais e materialismo na filosofia da mente. In: PERUZZO Jr., L.; CANDIOTTO, K.B.B. & KARASINSKI, M. (orgs.). Tendências contemporâneas de filosofia da mente e ciências cognitivas. Curitiba: Editora PUCPress, 2023a, pp. 243-263.

__________. A tese da identidade mente-corpo e o fisicismo qualitativo. A sair em Lampião, Maceió, v. 4, 2023b.

RUSSELL, B. (1978). Análise da matéria. Trad. N.C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Zahar. Original em inglês: 1927.

STRAWSON, G. A hundred years of consciousness: ‘a long training in absurdity’. Estudios de Filosofía, Medellín, v. 59, pp. 9-43, 2020.

TYNDALL, J. Scientific materialism. In: Tyndall, J. Fragments of science: a series of detached essays, addresses and reviews. Vol. 2. 6a ed. London: Longman, 1879. Original: 1868.

Publicado

2023-12-24

Como Citar

Pessoa Jr., O. (2023). REALISMO E A VINDOURA REVOLUÇÃO NOS ESTUDOS CIENTÍFICOS DA CONSCIÊNCIA. REVISTA INSTANTE, 5(2), 55–68. Recuperado de https://revista.uepb.edu.br/revistainstante/article/view/2992