DO ARREPENDIMENTO ENLOUQUECIDO
Palavras-chave:
Kierkegaard. Fé. Possibilidade ideal. Angústia. Angústia mortal.Resumo
Neste escrito, que busca edificar aquele que se achega, mergulharemos na forma paralisante e ilusória do arrependimento presente em O Conceito de Angústia, de Kierkegaard: o arrependimento enlouquecido. Este arrependimento consiste em nosso vão e decadente costume de brigar contra a vida, supondo que esta deveria e poderia ser diferente do que foi. Ana Prado ilustra dizendo que, em sua horta, ela plantou um pé de se, mas nunca nasceu. Tal arrependimento – aquele que não se converte na liberdade do indivíduo, não podendo anular o pecado, mas somente lamentar por ele – não é capaz de ultrapassar o instante mortal da angústia, fazendo morada neste estado. Ao longo do desenvolvimento restará claro que este hábito provém de não nos deixarmos formar na angústia pela fé. Mas que é a fé? Usualmente a horda se refere à fé como uma convicção de que coisas da vida ocorrerão conforme se deseja. Neste trabalho, todavia, a fé será pensada como um olhar existencial que, no húmus do humano, se afina com a própria realidade. Nesta fé – caminho transcendente do desesperado para a liberdade do perdão (travessia da doação) –, há a desistência de uma existência viciada na plantação de pés que não nascem. Isto é, abandonando a interpretação lamentosa para com o passado e o presente, bem como desistindo de temermos o futuro, é que podemos saltar para uma reexistência que decide acolher incondicionalmente (e com gosto) a existência. Aqui, então, atravessaremos este caminho do indivíduo desde o arrependimento enlouquecido até a metanoia (verdadeiro arrependimento).
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5º ed. Trad.: Alfredo Bossi. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BÍBLIA DE JERUSALÉM: Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. Tradução das introduções e notas de La Bible de Jérusalem, edição de 1998, publicada sob a direção da “École biblique de Jérusalem.” Edição em língua francesa / Les Éditions Du Cerf, Paris, 1998, ed. revisada e ampliada. 1°edição, 2013 / 5° reimpressão, 2022.
BUBER, Martin. O Caminho do homem segundo o ensinamento chassídico. É Realizações: São Paulo SP, 2011.
HARADA, Hermógenes. Verdade e Liberdade / Seminário: Da essência da verdade. Martin Heidegger. 2°semestre de 1970.
HESSE, Hermann. Sidarta. Trad.: Herbert Caro. 16º ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1975.
KIERKEGAARD, Soren. A doença para morte. Trad.: Jonas Roos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2022.
__________. As Obras do Amor. 4º ed. Trad.: Álvaro Luiz Montenegro Valls. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013a (Coleção Pensamento Humano).
__________. Ou – Ou: Um Fragmento de Vida (Primeira Parte). Trad.: Elisabete M. de Sousa. Relógio D` Água Editores, 2013b.
__________. Adquirir a sua Alma na Paciência, dos quatro discursos edificantes. Trad: LISBOA, N. Ferro e M. Jorge de Carvalho. Edição 1094: 2007.
__________. O conceito de angústia: uma simples reflexão psicológico-demonstrativa direcionada ao problema dogmático do pecado hereditário. Trad.: Álvaro Luiz Montenegro Valls. 3º ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
__________. Discursos edificantes em diversos espíritos – 1847. Trad.: Álvaro L. M. Valls e Else Hagelund. São Paulo: LiberArs, 2018.
LISPECTOR, Clarice. EDITORA DO AUTOR - Av. Nilo Peçanha, 155 - Gr. 207 - “EDAUTOR” - Rio de Janeiro. Copyright by Clarice Lispector. Rio, 1964.
PESSOA, Fernando. 1888-1935. Poemas Completos de Alberto Caeiro / Fernando Pessoa; [organização Carlos Felipe Moisés]. 2º ed. São Paulo: Ática, 2013.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhem, 1844- 1900. A gaia ciência. Trad.: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
__________. Genealogia da Moral, Uma polêmica. Trad.: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
__________. Ecce homo: como se chega a ser o que se é / Braga. São Paulo: Lafonte, 2021.
PRADO, Ana Maria Ferreira, (s.d.), Comunicação Pessoal.