MITOLOGIA DA PERDA:
SOBRE UMA CARACTERÍSTICA ESTRUTURANTE DA ONTOLOGIA
Palavras-chave:
Ontologia. Mito. Nostalgia. Temporalidade. Narrativa.Resumo
O presente artigo procura apresentar como característica distintiva do discurso da ontologia a formulação de um “mito de origem” da condição humana, compreendida a partir da perda estrutural de um elemento formador da nossa humanidade, e que a própria atividade filosófica visa restaurar – como forma ritual adequada a esse mito. Tomamos como fio condutor da análise a apresentação do discurso ontológico em um lugar no qual ele é explicitamente nomeado (a obra de Martin Heidegger), comparando momentos de sua reflexão com seu outro extremo cronológico (o discurso da ontologia em Platão). Nota-se, nos dois extremos da ontologia, uma igual propensão em fazer da filosofia a análise diagnóstica dessa perda e, ao mesmo tempo, sua prática remediadora. Ao final do texto, nós procuraremos esboçar uma alternativa, para a filosofia, à mitologia da perda que se apresenta no discurso da ontologia: a possibilidade de fragmentação temporal do círculo mítico, encontrado nas narrativas literárias.
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