O CONCEITO DE MENTIRA SEGUNDO KANT

Autores

  • Karine Cristine de Souza Barboza Universidade Federal do Paraná, Brasil https://orcid.org/0009-0007-0406-9792
  • Joel Thiago Klein Universidade Federal do Paraná, Brasil

Palavras-chave:

Mentira, Implicação de, Dever de veracidade, Intencionalidade, Imoralidade, Mentira. Implicação de proferimento. Dever de veracidade. Intencionalidade. Imoralidade.

Resumo

O presente artigo examina a definição de mentira na obra de Kant, a partir de critérios que podem ser denominados de condição de declaração, condição de destinatário, condição de inveracidade e condição de intencionalidade. Para tanto, distingue-se entre meras expressões e declarações, bem como entre inveracidade, falsidade e falsificação. Acerca da declaração, destaca-se que o mentiroso não ignora ou desconhece a implicação de proferimento, mas que ativamente se utiliza dessa implicação feita pelo ouvinte. Apesar dessa implicação não ser necessária para o sucesso da mentira, Kant estabelece uma relação direta entre a implicação de proferimento e declaração de honestidade, de modo que o locutor deve observar o dever de veracidade. Essa declaração de honestidade não só pode ser declarada diretamente, como também é exigida explicitamente no contexto ético e jurídico. Além disso, defende-se a centralidade da condição de intencionalidade na definição de mentira por Kant, de modo que somente a partir da intenção é possível diferenciar a mentira do erro e de inveracidades não enganosas, tal como a ficção e a ironia. Define-se, assim, a mentira como uma forma de simulação caracterizada pela dissimulação da real intenção. Defendemos, além disso, que a mentira apresenta dois níveis de inveracidade, a saber, quanto ao pensamento e quanto a intenção. O primeiro trata da mentira sobre o valor de verdade da asserção, enquanto o segundo trata da mentira sobre o valor de verdade da crença declarada.

 

DOI: https://doi.org/10.29327/2194248.6.3-7

Biografia do Autor

Karine Cristine de Souza Barboza, Universidade Federal do Paraná, Brasil

Licenciada em Filosofia pela UFPR (2020). Mestra em Filosofia pela UFPR (2024). Doutoranda cotutela em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná e Universität Vechta (Alemanha). Pesquisa os seguintes temas: moral, filosofia política e epistemologia na filosofia de Kant.

Joel Thiago Klein, Universidade Federal do Paraná, Brasil

Graduado e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (2008) e Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012) com estágio de doutorado na Humboldt-Unversität zu Berlin. Professor de Filosofia Moderna, Ética e Filosofia Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR), atuando na graduação e pós-graduação. Também atua como membro permanente na pós-graduação do Curso de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez pós-doutorado na Ludwig-Maximilians-Universität München com bolsa CAPES/Alexander von Humboldt para pesquisador experiente. Foi professor visitante na Goehte University Frankfurt. É editor da Studia Kantiana (revista da Sociedade Kant Brasileira desde 08/2015, qualis A2). Membro da Diretoria da Sociedade Kant Brasileira (Gestão 2014-2018; 2018-2022; 2023-2026). Membro de sustentação do GT Kant da ANPOF. Membro associado do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Membro da Kant-Gesellschaft. Bolsista produtividade CNPq desde 2016. Ex-bolsista CAPES e DAAD.

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Publicado

2024-12-26

Como Citar

Barboza, K. C. de S., & Klein, J. T. (2024). O CONCEITO DE MENTIRA SEGUNDO KANT. REVISTA INSTANTE, 6(3), 142–174. Recuperado de https://revista.uepb.edu.br/revistainstante/article/view/4156